Tudo a ver
Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voarFriedrich Wilhelm Nietzsche
Estava com o pensamento longe e não sei bem por que comecei a divagar sobre as muitas loucuras das quais a humanidade foi capaz de realizar. Nazismo, Facismo, seitas e tudo o que envolva um estado mental fora do comum.
Tenho cá pra mim que os loucos como Hitler e Inri Cristo tem todo o direito de criar suas leis e interpretações sobre a realidade. Não cabe a ninguém entender como esses tipos chegaram a tais conclusões e criaram os seus sistemas filosóficos. A título de curiosidade até vale tentar entender. Devemos respeitar o mundo do louco, o que não podemos é aceitar que idéias tresloucadas como a que esses indivíduos formulam sejam assimiladas e tornem-se o norte de muitos indivíduos. Mas não é fácil em determinadas situações não nos rendermos a alguns apelos que certas idéias nos trazem. Ao se entregar a uma conduta religiosa, política ou social, o indivíduo pode estar preenchendo uma lacuna moral ou afetiva. Na Alemanha pré-nazista, o desmantelamento da economia e da ordem social decorrente da pós-guerra e do Tratado de Versalhes fizeram com a que a população se rendesse as idéias de cunho racista e sem embasamento unidas a uma ação política de certo modo eficaz que ergueu a Alemanha. Alguns especialistas até afirmam que existiu nesse contexto uma sociedade Socialista, uma vez que a autoridade e não os consumidores quem controlava a produção. Atrocidades como Auschwitz foram as menores razões que impeliram os EUA a entrar na Segunda Guerra. Depois de ter vendido armas a "rodo" será que era interessante deixar um continente importante como a Europa sob destroços? Creio que não. Era chegada a hora de implodir o sistema adotado na Alemanha que poderia ameaçar o capitalismo, e que a tirou da miséria, e ser o "Salvador e Guardião da Paz". Notem que a minha crítica não foi ao modo que o Nazismo conduziu as questões práticas de uma nação, mas nas barbaridades realizadas contra a vida.
Falemos de mais loucuras. Sessão do descarrego, unção do óleo sagrado, corredor do sal, corrente da libertação e uma infinidades de lorotas. Sim, estou falando da Igreja Universal do Reino de Deus (deu uma vontade de escrever Igreja Pentecostal Loucuras de Meu Deus, como parodiaram Hermes e Renato). Trata-se de loucuras, mas não resultado de devaneios legítimos de um louco. Trata-se de hienas que encontraram um nicho na sociedade capaz de explorar com métodos sensacionalistas incautos, deprimidos e pessoas marginalizadas da cultura. Tenho uma vontade enorme de pegar uma câmera e sair pelo mundo afora filmando as cerimônias dessa podre instituição caça-níqueis para desmascarar esses servandijas sanguessugas que já se alastraram pelos demais continentes. Garanto que não me agrada nenhuma religião. Acredito que uma boa parte da humanidade já esteja pronta para um novo contexto de espiritualização que não o arcaico julgo de “lideres” espirituais. Em especial, tenho ganas de desmoralizar Edir Macedo. Pensando bem em seguida poderia vir o George Bush, Papa, aiatolá Khamenei...
O poema a seguir foi escrito a pouco tempo, quando sofria de apaixonite aguda, e faz parte de uma coletânea intitulada : Aquário ou Reminiscências e vestígios do Extinto
ser ilha
seremos todos ilha?
estamos condição ilha?
só sei que dói
corrói nosso juízo
a vontade continente
quero ponte ou balsa
nem me conheço e quero o outro
solução mais desatada
quando contingente
contagia e é deleite
simplesmente ser sonhada
Acabei de assistir pela terceira vez, e de forma mais atenta, o filme Brilho eterno de uma mente sem lembranças. Rever esse filme é essencial para a apreensão de detalhes que nos escapariam quando assistido pela primeira vez. Pirotecnismos do roteiro à parte, algo que Charlie Kaufman faz com maestria, notei que o filme, se não trata de tudo, trata de quase tudo ao que diz respeito a um relacionamento amoroso. Encantamento pelo desconhecido e o prazer de novas descobertas seguidos de tédio e prostração. Clementine, interpretada brilhantemente por Kate Winslet (aquela "gordinha" protagonista do Titanic) e Joel (Jim Carrey) ao se (re)conhecerem aterão-se aos traços da personalidade um do outro que os fascina para então criar laços afetivos. Mal sabem eles que no processo de "desmemorização" ambos falam coisas horríveis do outro em seus depoimentos gravados. Talvez a fórmula do eterno amor (quanta pieguice!) consista no fato de deletarmos as memórias cujas mágoas estão guardadas. A quem não quiser se submeter a esse processo, mostrado nessa produção holiwoodiana (incrível né?), o exercício que devemos nos propor seguir é uma maior atenção ao que nos atrai no outro e se vale a pena desconsiderar essa atração conforme vamos nos ferindo no trato cotidiano, ou ainda se não deveríamos evitar criar tais desgastes nos relacionamentos, sejam eles amizades, parentais ou amorosos .
Eu acredito piamente que eu fui submetido à essa técnica de desmemorização. Me recuso a acreditar que aos 23 anos (quase 24) eu não tenha dividido minhas alegrias e tristezas com alguém. O que me alegra, mesmo sem lembrar, é ter vivido uma história. Sei que pedi aos meus familiares e amigos esconderem que amei uma linda mulher, pelo menos linda aos meus olhos que vêem sutis belezas. Algo me diz que em Montauk ela estará me esperando, num frio dia de fevereiro, olhando o mar.