20.3.07

BLOCO DO eu SOZINHO

Acabei de ouvir o Bloco do eu sozinho de Los Hermanos da primeira à ultima faixa e posso dizer que realmente é um álbum excepcional.

Como disse toda as canções são boas. As que mais me agradam são especialmente "Todo Carnaval tem seu fim", "Retrato pra Iaiá", "Casa pré-fabricada", o surpreendente "Cadê teu suín" e "Veja bem meu bem". Contudo não posso deixar de frisar a obra prima que é "Sentimental". Ainda faço um curta com ela.

Não gostei da banda de cara, cheguei até a odiar achando que seria um grupo de um sucesso apenas, coisa muito corriqueira nessa terra brasílis. O que era essa banda antes dele: 4 barbudos que tinham um som com uma levada rock, alguns poucos elementos da música brasileira, que mais tarde é o que vai dar o ar da graça, e temas sobre o carnaval numa canção ou outra e uma porrada de musas (Aline, Bárbara, Ana Júlia, Cremilda, Deusdete...). Dizem que esse bom resultado foi uma questão de mostrar que eles eram capazes para a sua antiga gravadora que os boicotou, depois de ter sugado Ana Júlia até não poder mais. Se a genialidade que vemos no Bloco... já estava latente então foi um desperdício e tanto. Vai ver que foi sorte, pois digamos que se esses rapazes já fizessem um Bloco... de cara. Não seria difícil um segundo álbum tão bom quanto? Um desafio e tanto, a menos que pela lógica fosse o Ventura, que também é de uma qualidade indiscutível. Então o Bloco do eu sozinho foi um divisor de águas para o Los Hermanos que desde então só lançou canções que me agradam. Adoro o último álbum lançado, o 4. Espero que o próximo seja uma confirmação dessa qualidade da banda.


4.3.07

Sábado

Era um sábado. O Sol brilhava para todos, indiferente. Essa é a constatação de que não há a tal justiça ou justa-medida. Na passarela toda de metal havia entranhada uma samambaia selvagem. Não havia evidencia de alguma terra naquele ponto. A planta raquítica sugava o ferro. Samambaias selvagens são realmente muito feias, não por isso desistem de brigar por existir, pelo contrário, assim como as coisas feias e miseráveis parecem que são as que mais teimam em viver e se multiplicar, nem que literalmente no ferro. Sabe ela que ninguém vai contemplá-la? Por que lutar por aquela vida parca e enferrujada? Para o ferro as suas raízes deveriam ser um câncer. Não seja feia plantinha, não seja. Morra que assim será melhor pro mundo. E estava a moça do violino, loura, cabeça raspada com algumas mechas de cabelo, meio Hare Krishna a tocar seu violino no semáforo. E eu parei e a olhei. Ela me olhou. Sorri e ele corresponde com um sorriso tímido, quase inexistente. Seus olhos não me deram algum conforto de uma doutrina milenar. E os carros pararam e ela tocou. Alguns contribuíram. Fiquei até o próximo sinal. Era o momento de ir. A vara gerou e som arranhando a atmosfera. Estava à sombra e o tempo era fresco. "Eu fui na casa dele". É tudo tão precário. A moça de short e blusa de crepe azul corria. Era o show, a casa de shows. Velozes passavam os carros com seus ocupantes cheios de vida pra viver. E enquanto aos problemas? A comida japonesa é um conceito. O luxo cega. Pra alguns a cegueira é felicidade. Não quero querendo ser. Os olhares se desviam do meu que é tão pidão. Eles têm a vida que eu quero? Tento não querer. Eles têm a vida improvável. Um pesadelo mais confortável que o de muita gente. Elas nem me olham. De uma velha vejo o escárnio em contração do esternoclidomastóideo, súbita virada da cabeça. As artesanias de uma tribo pra enfeitar uma sala impessoal. Confundi Euclides da Cunha com Nietzsche na capa de um livro. Um senhor sentado aparentando estar sob efeito de Prozac. Não se mate, cegue-se. Tens olhos mais pra cegar-te. Um jovem com chapéu de abas. Meu Deus! Que mundo precário. Clamar a Deus já é pra mim um costume, um hábito que já não salva a ninguém e, por isso, deveria ter ficado ouvindo a moça do violino. O som é de um zumbido de mosquito, só que o vôo é controlado. Elas estão por toda parte sempre me querendo insignificante. Aqui e ali aparecia meu mais legítimo desejo. Temo não realizá-lo, porque depende e não de mim. É do inferno que penso que pode vir meu céu. Veja só! Dois Droogs. O alvo vestido refletindo os raios solares fazia da moça comum mais interessante. As demais já eram interessantes naturalmente, ao passo que emanam sua despreocupação com a vida. É dessa despreocupação que eu gosto? Provavelmente. No telefone público liguei para meu próprio número. Ato falho ou uma vontade de me centrar, mas tinha que ligar para minha irmã. Agora, gelados, chocolate e o creme eram reais. Ninguém diria que não eram o caos os cacos de pensamentos. Os carros e gente indo de lá pra cá. Cabeludo está correndo para onde? Olha a travessia. Um taxista me olhou. Que olhar com tamanha familiaridade é esse que ele mirou em minha direção? Nem sei por que de balancei a cabeça num sinal de cumprimento, reconhecimento. Nunca o vira antes. Quanta precariedade!